A cidade de Cajazeiras, celeiro cultural do sertão paraibano e berço de efervescente expressão popular, encontra-se em compasso de espera. Às vésperas da realização do tradicionalíssimo Xamegão, evento que transcende o mero entretenimento e se configura como patrimônio imaterial da identidade nordestina, a pergunta que ressoa, e com razão nos quatro cantos da cidade é direta e perturbadora: afinal, o Governo do Estado vai ou não apoiar financeiramente o evento?
A prefeita Corrinha Delfino (PP), em gestão marcada por arrojo administrativo e capacidade de articulação política, acaba de conduzir com maestria o maior carnaval da Paraíba em 2025, feito que, por si só, já deveria posicionar Cajazeiras como prioridade nos mapas de investimento cultural do Estado. No entanto, mesmo após o envio de projeto formal ao Palácio da Redenção e entrega direta ao secretário estadual de Cultura, Pedro Santos, o silêncio que vem do gabinete do governador João Azevedo se mostra eloquente. E incômodo.
Seria este silêncio uma amnésia estratégica? Afinal, não faz muito tempo, João Azevedo foi amplamente sufragado nas urnas cajazeirenses. O povo da Terra do Padre Rolim, historicamente politizado e atento, escolheu o atual mandatário estadual com entusiasmo, ou como dizem por aqui, "deu de lapada" nas urnas. Seria, portanto, no mínimo esperado, senão eticamente exigível, um retorno à altura da confiança depositada.
A administração municipal, comprometida com a responsabilidade fiscal, articula esforços para que o Xamegão não pese sobre os cofres públicos. A folha de pagamento e o equilíbrio financeiro da gestão são tratados com a seriedade que falta, neste momento, à sensibilidade política do Governo do Estado. Para tanto, Corrinha buscou parcerias federais e obteve importantes apoios, incluindo emendas parlamentares e suporte da Caixa Econômica Federal.
Contudo, a ausência do Estado neste processo beira o inexplicável. Ou pior: o desrespeitoso.
Cajazeiras não pede favor. Reivindica aquilo que lhe é de direito. Cultura, quando tratada com seriedade, é política de desenvolvimento, é inclusão social, é economia pulsante. O Xamegão não é um evento qualquer. É símbolo, é legado, é povo na rua celebrando a própria existência. E negar-lhe o apoio institucional do Estado é, no mínimo, um gesto de desatenção política para com uma cidade que sempre se fez presente nas grandes decisões paraibanas.
A pergunta segue: o Governo do Estado vai, enfim, se posicionar? Ou seguirá emudecido, deixando que a poeira da ingratidão cubra a esperança de um povo que só deseja ver sua cultura reconhecida e valorizada?
Porque em Cajazeiras, o forró já ensaia seu primeiro acorde. E a ausência do Estado nesse arrasta-pé não passará despercebida.